Para além da vida e da morte: o erótico e o sagrado em Deus de Caim, de Ricardo Guilherme Dicke
Visualizações: 616Palavras-chave:
Ricardo Guilherme Dicke, sexo, morte, tempoResumo
Hoje esquecido pelo mercado editorial e pelos departamentos de literatura das universidades brasileiras, o escritor Ricardo Guilherme Dicke (1936 – 2008) foi uma das surpresas do II Prêmio Nacional Walmap de literatura, realizado em 1967, com o romance Deus de Caim(1968).
No prefácio à obra, Antonio Olinto (1919 – 2009) identifica no romance, a partir das ideias de Herbert Marcuse (1898 – 1979), o apelo a Eros na luta contra a morte pavimentada pela sociedade industrial.
Nosso objetivo é demonstrar que, ao contrário do que acreditava o crítico mineiro, o que Deus de Caimpõe em jogo é, não o erotismo como afirmação da vida e proteção contra a morte, mas, sim, como nas palavras de Bataille, o erotismo como “a aprovação da vida até na morte”.
Em sua crença no papel do escritor como aquele que lida com “o imponderável das coisas eternas”, Dicke se aproxima do ideal de artista como “construtor de espelhos”, de Michel Leiris, e na articulação do erótico com o sagrado busca vencer o tempo sem relógio ao realizar a transposição dos limites entre Eros e Tânatos no caminho da supressão da fronteira entre a vida e a morte.
Referências
BARRETO, Benito. Capela dos homens: livro II da trilogia Os Guaianas. Rio de Janeiro: Record, 1968.
BATAILLE, Georges. “Le deux visage”. In: La phénoménologie érotique, Ouvres complètes. Paris: Gallimard, 1976, tomo VIII, p. 527-528.
BATAILLE, Georges. O erotismo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
BAUDELAIRE, Charles. O meu coração a nu. Lisboa: Guimarães Editores, 1988.
BRASIL, Assis. Beira Rio, Beira Vida. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1965.
DICKE, Ricardo Guilherme. Deus de Caim. Rio de Janeiro: Edinova, 1968.
DICKE, Ricardo Guilherme. Deus de Caim. Taubaté. SP: LetraSelvagem, 2010.
DICKE, Ricardo Guilherme. “Ricardo Guilherme Dicke: 19 anos de literatura, lutas e sonhos. Vários livros publicados”. Correio Várzea-grandense, Várzea Grande, 19 out. 1985, p. 10-11.
FAULKNER, William. O som e a fúria. São Paulo: Companhia das Letras, 2017
HILST, Hilda. “Hilda Hilst: o excesso em dois registros”. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 7 out. 1989. Caderno Idéias/Livros, p. 4-5. Entrevista a Berta Waldman e Vilma Arêas.
HILST, Hilda. Do desejo. São Paulo: Globo, 2004.
LACAN, Jacques. Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
LEIRIS, Michel. Espelho da tauromaquia. São Paulo: Cosas & Naify Edições, 2001.
LUCAS, Fábio. Do barroco ao moderno. São Paulo: Ática, 1989.
MARCUSE, Herbert. Eros e civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de Freud. Rio de Janeiro: Zahar, 1975
MORAES, Eliane. Robert. Perversos, amantes e outros trágicos. São Paulo: Iluminuras, 2012.
MORAES, Eliane. Robert. “Traços de Eros”. In: BATAILLE, Georges. O erotismo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014, p. 305-316.
SARDUY, Severo. “O barroco e o neobarroco”. In: MORENO, César Fernández. América Latina em sua literatura. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 161-178.
OLINTO, Antonio. “Porta de Livraria”. O Globo, Rio de Janeiro, 26 nov. 1964, p. 6.
OLINTO, Antonio. “A forte simbologia de um jovem ficcionista”. O Globo, Rio de Janeiro, 23 set. 1968, p. 11.
OLINTO, Antonio. Do Sexo e da Morte em Dicke. In: DICKE, Ricardo Guilherme. Deus de Caim. Rio de Janeiro: Edinova, 1968, p. 11-16.
PÉCORA, Alcir (Org). Por que ler Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2010.
PÓLVORA, Hélio. “‘Caieira’, na unha do mestre Graciliano”. Diário de Cuiabá, Cuiabá, 5 set. 1978. 2º Caderno, p. 1.
RAMOS, Graciliano. Linhas tortas. Rio de Janeiro: Record, 2015.
RANGEL, Paulo Celso Nogueira. A verdade. Rio de Janeiro: Record, 1968.
SARTRE, Jean-Paul. “Sobre o som e a fúria: a temporalidade na obra de Faulkner”. In: FAULKNER, William. O som e a fúria. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p. 363-373.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE E EXCLUSIVIDADE E CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
Declaro que o presente artigo é original e não foi submetido à publicação em qualquer outro periódico nacional ou internacional, quer seja em parte ou na íntegra. Declaro, ainda, que após publicado pela REVELL, ele jamais será submetido a outro periódico. Também tenho ciência que a submissão dos originais à REVELL - Revista de Estudos Literários da UEMS implica transferência dos direitos autorais da publicação digital. A não observância desse compromisso submeterá o infrator a sanções e penas previstas na Lei de Proteção de Direitos Autorais (nº 9610, de 19/02/98).