TY - JOUR AU - Magalhaes da Silva, Ana Paula PY - 2023/04/12 Y2 - 2024/03/28 TI - “Lar no estranho” ou “estranho lar”: uma leitura de Os laços de família e Amor de Clarice Lispector JF - REVELL - REVISTA DE ESTUDOS LITERÁRIOS DA UEMS JA - REVELL VL - 1 IS - 34 SE - Tema Livre DO - UR - https://periodicosonline.uems.br/index.php/REV/article/view/7278 SP - 223-242 AB - <p>Em várias obras de Clarice Lispector, pode-se identificar um padrão narrativo que consiste na presença de uma tensão constante e crescente, que culmina em uma experiência epifânica por parte das protagonistas. A presente análise argumenta que, no caso dos contos <em>Os laços de família</em> e <em>Amor</em>, ambos de 1960, a revelação epifânica vivenciada por Catarina e Ana, respectivamente, dá-se não apenas pelo olhar fenomenológico das protagonistas sobre elementos cotidianos, como é comum na obra clariciana, mas será acionada por um componente crítico a essas narrativas, a saber, o sentido freudiano do estranho despertado pela (assustadora) possibilidade do retorno ao útero materno, seja esse metafórico ou simbólico. Em outras palavras, a epifania ocorre quando as protagonistas testemunham a transmutação da sensação de estar-se protegido, em casa (<em>heimish</em>), no estranho (<em>unheimlichen</em>) e o deparar-se no estranho lar (<em>das unheimliche Heim</em>). No caso de <em>Os laços de família</em>, e com base nos estudos psicanalíticos de Melanie Klein, defendo que o contato físico involuntário entre mãe e filha constitui o gatilho para a experiência do estranho, revelando a relação conflituosa entre a mãe egoísta e a filha invejosa e a tardia compreensão da unidade do "seio bom" e do "seio mau". Em <em>Amor</em>, adotando como principal referencial teórico o paradigma edipiano formulado por Freud e sua associação com a lógica paterna, masculina, e com a religião monoteísta hegemônica, defendo que a visão do cego mascando chiclete - o qual representa o sujeito pré-edipiano que reintroduzirá Ana ao reino que antecede à Cultura e seus tabus - aciona a experiência epifânica por simbolizar um possível retorno às origens e, simultaneamente, à morte, com início e fim se confundindo e apontando para a unidade pré-natal ideal, experimentada no útero materno.</p> ER -