Crioulo cabo-verdiano e papiamento: estudo comparativo de demonstrativos em anáfora no gênero textual de notícia

Visualizações: 767

Autores

  • César Nardelli Cambraia e Daiane Soares Bertolino Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Resumo

Este estudo teve como objetivo analisar comparativamente demonstrativos no crioulo cabo-verdiano e no papiamento na função de anáfora na modalidade escrita. Do ponto de vista teórico-metodológico, este estudo se baseou no modelo teórico tipológico-funcional de Givón (2001) e no modelo descritivo de Halliday e Hasan (1976), tendo sido realizado com base em um corpus composto de dados extraídos de textos do gênero textual de notícia. Testaram-se duas hipóteses, que puderam ser comprovadas. A primeira hipótese foi a de que a função anafórica é codificada prototipicamente por uma forma específica em cada língua, o que foi confirmado, pois se constatou que, no crioulo cabo-verdiano, a forma prototípica usada para essa função foi es e, no papiamento, foi e...aki /esaki. A segunda hipótese foi a de que outras formas podem aparecer exercendo essa função excepcionalmente, o que também foi confirmado, já que se constatou o emprego de kel/kes e de kel li exercendo a função de anáfora no crioulo cabo-verdiano e de e...ei/esei e e...ayá no papiamento. No caso do crioulo cabo-verdiano, as formas alternativas para expressar anáfora podem ocorrer por duas razões: (a) quando se trata de expressão demonstrativa com demonstrativo na posição de núcleo (empregando-se kel li) e (b) quando há a função superveniente de ativação de conhecimento compartilhado pressuposto pelo locutor (empregando-se kel/kes). Entretanto, há também a possibilidade de ocorrer kel/kes em contextos que não são os dois descritos anteriormente, o que significa que haveria variação linguística nesse domínio. No caso do papiamento, as formas alternativas para expressar anáfora podem ocorrer para codificar diferentes graus de distância em relação ao lugar da enunciação no caso de expressões demonstrativas temporais: usa-se e...ayá para marcar passado distante, e...ei para marcar passado indefinido ou próximo e e...aki para marcar futuro próximo. Entretanto, constatou-se também a existência de variação linguística, pois houve ocorrência de e...aki em expressão demonstrativa temporal para marcar passado próximo, assim como o faz prototipicamente e...ei, e também de e...ei/esei em expressões demonstrativas não temporais, assim como o faz prototipicamente e...aki/esaki.

Referências

ALEXANDRE, N.; SOARES, N. V. O domínio nominal em CCV: o puzzle dos bare nouns. In: ENCONTRO Nacional da APL, XX, Lisboa. Anais... Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/30793/1/Alexandre_Soares2005-Dom%c3%adnioNom_CCV.pdf. Acesso em: 18 jun. 2020.

BAPTISTA, M. The syntax of Cape Verdean Creole: the sotavento varieties. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2002. (Linguistics Today Linguistik Aktuell 54).

BRÜSER, M.; SANTOS, A. dos R. Dicionário do crioulo da Ilha de Santiago (Cabo Verde) com equivalentes de tradução em alemão e português. Tübingen: Gunter Narr, 2002.

CAMBRAIA, C. N. Assimetrias românicas: sistemas de demonstrativos (português brasileiro × espanhol mexicano) [fase I]. 2012. Relatório Final (Produtividade em Pesquisa, CNPq) ⸺ Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.

CAMBRAIA, C. N. Competição entre motivações: uma discussão sob a perspectiva da linguística românica. In: OLIVEIRA, M. R. de; ROSÁRIO, I. da C. do. (Org.). Linguística centrada no uso: teoria e método. Rio de Janeiro: Lamparina/Faperj, 2015a, p. 99-112.

CAMBRAIA, C. N. Assimetrias românicas: sistemas de demonstrativos (português brasileiro × espanhol mexicano) [fase II]. 2015. Relatório Final (Produtividade em Pesquisa, CNPq) ⸺ Universidade Federal de Minas Gerais, 2015b.

CAMBRAIA, C. N. Assimetrias românicas: sistemas de demonstrativos (latim / português brasileiro e europeu × espanhol mexicano e europeu) [fase III]. 2018. Relatório Final (Produtividade em Pesquisa, CNPq) ⸺ Universidade Federal de Minas Gerais, 2018.

CAMBRAIA, C. N.; MELO, T. C. A. de; VILACA, C. E. L.; SALTARELLI, T. C. V. L. Demonstrativos na România medieval: uma análise comparativa em uma perspectiva funcional. Alfa: Revista de Linguística, São Paulo, v. 60, n. 1, p. 29-59, 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1981-5794-1604-2. Acesso em: 18 jun. 2020.

CARDOSO, E. A. O crioulo da Ilha de S. Nicolau de Cabo Verde. Lisboa/Praia: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa/Instituto Cabo-Verdiano do Livro, 1990

DELGADO, C. A. Crioulo de Cabo Verde: situação linguística da zona de barlavento. Praia: Instituto da Biblioteca Nacional do Livro, 2008.

ECHEVERRÍA, S. E. Assimetrias românicas: sistemas de demonstrativos (português europeu × espanhol europeu dos sécs. XVIII a XX). 2012. Relatório Final (Estágio Pós-Doutoral) ⸺ Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.

GIVÓN, T. Functionalism and grammar. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 1995.

GIVÓN, T. Syntax: an introduction. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2001. 2 v.

GOILO, E. R. Papiamentu textbook. Aruba: De Wit Stores, 1962 [2000].

HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. Cohesion in English. London: Longman, 1976 [2004].

HOPPER, P. J.; TRAUGOTT, E. C. Gramaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

LENZ, R. El Papiamento: la lengua criolla de Curazao. Santiago de Chile, Balcells & Cia., 1928.

LUCCHESI, D. The article systems of Cape Verde and São Tomé Creole Portuguese: general principals and specific factors. Journal of Pidgin and Creole Languages, Philadelphia/Amsterdam, v. 8, n. 1, p. 81-108, 1993. Disponível em: https://doi.org/10.1075/jpcl.8.1.04luc. Acesso em: 18 jun. 2020.

MARTELOTTA, M. E.; AREAS, E. K. A visão funcionalista da linguagem no século XX. In: CUNHA, M. A. F. da; OLIVEIRA, M. R. de; MARTELOTTA, M. E. Linguística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: FAPERJ/DP&A, 2003.

MAURER, P. Les modifications temporelles et modales du verbe dans le papiamento de Curaçao (Antilles Néerlandaises). Avec une anthologie et un vocabulaire papiamento-français. Hamburg: Buske, 1988. (Kreolische Bibliothek, 9)

MUNTEANU, D. El papiamento, lengua criolla hispánica. Madrid: Gredos, 1996.

NEVES, M. H. de M. A gramática funcional. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

QUINT, N. Grammaire de la langue cap-verdienne. Paris: L’Hartmann, 2000.

RAMALHO, V. H. B. Sistema de demonstrativos no português brasileiro e no espanhol mexicano: os gêneros notícia e romance e suas tradições discursivas. 2016. 260 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) ⸺ Universidade Federal de Minas Gerais, 2016. Disponível em: <https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/MGSS-A9ZRHQ/1/ramalho__2016____sistema_de_demonstrativos.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2020.

RAMALHO, V. H. B. Tradições discursivas do gênero notícia e os sistemas de demonstrativos no português e no espanhol europeus e latino-americanos. 2018. Relatório Final (Estágio Pós-Doutoral) ⸺ Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2018.

SWOLKIEN, D. The Cape Verdean creole of São Vicente: its genesis and structure. 2015. 301 f. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa: Investigação e Ensino) – Universidade de Coimbra, 2015. Disponível em: https://eg.uc.pt/bitstream/10316/27018/1/The%20Cape%20Verdean%20Creole.pdf. Acesso em: 01 dez. 2019. 2015.

VEIGA, M. Le créole du Cap-Vert: étude grammaticale descriptive et contrastive. Paris/Praia: Karthala/ICP, 2000.

Downloads

Publicado

2010-07-02

Como Citar

Daiane Soares Bertolino, C. N. C. e. (2010). Crioulo cabo-verdiano e papiamento: estudo comparativo de demonstrativos em anáfora no gênero textual de notícia. REVISTA ESTUDOS EM LETRAS, 1(1), 143–165. Recuperado de https://periodicosonline.uems.br/index.php/estudosletras/article/view/5211

Edição

Seção

Artigos