Inação e morte no teatro simbolista
Maeterlinck e Pessoa
Visualizações: 627DOI:
https://doi.org/10.61389/rel.v2i1.5751Resumo
Com o advento da estética simbolista no século XIX, que primava pela valorização de uma subjetividade isoladora, passiva, indiferente e por vezes hermética, em reação à objetividade de um cientificismo cada vez mais perceptível no seio da forma literária, logrou-se, no âmbito da arte dramática, questionar a própria estrutura do drama. Ensimesmadas, as personagens do teatro simbolista inviabilizam reais tensões intersubjetivas, resignadas que estão diante da morte, que ocupa todo o espaço da mimese e acaba por, formalmente, impedir a ação. Cenicamente, o efeito é potencializado por ambientes sombrios, suspensos no tempo e distantes no espaço – ao gosto dos simbolistas –, nos quais prostram-se homens e mulheres impotentes, despidos de identidade individual e convencidos da inutilidade de (inter)agir. Este trabalho busca refletir, a partir de peças do belga Maurice Maeterlinck e do português Fernando Pessoa, sobre as formas pelas quais a temática da morte, ao se precipitar em linguagem teatral amparada nos moldes do simbolismo, leva à obliteração estrutural da ação, multissecular sustentáculo do gênero, evidenciando a substituição do real pelo onírico, da afirmação pela sugestão e, enfim, do movimento pela inação do drama estático.Referências
BALAKIAN, Anna. The symbolist movement. New York: New York University Press, 1977.
JUNQUEIRA, Renata Soares. Transfigurações de Axel: leituras de teatro moderno em Portugal. São Paulo: Editora Unesp, 2013. DOI: https://doi.org/10.7476/9786557144756
MAETERLINCK, Maurice. A intrusa. Porto Alegre: Centro de Arte Dramática da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1967.
MAETERLINCK, Maurice. La princesa Malena; La intrusa; Los ciegos. Madrid: Renacimiento, 1913.
MOLER, Lara Biasoli. Da palavra ao silêncio: o teatro simbolista de Maurice Maeterlinck. 2006. Tese (Doutorado em Língua e Literatura Francesa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
NEVES, Maria Helena de Moura; JUNQUEIRA, Renata Soares. O estatuto da linguagem n’O Marinheiro de Fernando Pessoa. Revista Scripta, Minas Gerais, v.7, p.183-201, 2004.
PESSOA, Fernando. O marinheiro. São Paulo: Babel, 2011.
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2016. (Coleção Folha Grandes nomes da literatura, v.24).
SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno (1880-1950). Tradução de Luiz Sérgio Repa. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001.
VILLIERS DE L’ISLE-DAM, Auguste. Axël. Paris: J.M. Dent et fils, 19--.
WILSON, Edmund. O castelo de Axel: estudo sobre a literatura imaginativa de 1870 a 1930. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.