TRAJETÓRIAS E ESTÓRIAS NOS LETRAMENTOS DAS IRMÃS RAMOS: O CASO DE UMA FAMÍLIA INTERIORANA
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Modelos de letramento, práticas sociais e culturais, eventos de letramentoResumo
Este artigo pondera a trajetória inicial de letramentos de quatro irmãs profissionais do interior do México, destacando o conceito de eventos de letramento e os modelos analisados por Shirley Brice Heath (2011) em seu estudo clássico sobre três famílias norte-americanas. Ramos retoma a visão sociocultural e abrangente de Cassany e Castellá (2010) em torno dos letramentos e, com o intuito de fazer um comparativo entre os processos e eventos de letramento, entrevista a cada uma das três irmãs e, posteriormente, adere os depoimentos ao trabalho de análise sobre seu próprio processo de alfabetização e aquisição da oralidade. Através do método autobiográfico e da entrevista em profundidade, a autora visa compreender as maneiras bem sucedidas “de se lidar” com as fontes escritas e de adquirir a oralidade aprimorada de quatro irmãs dentre elas a própria pesquisadora- em um entorno (o estado mexicano de Chiapas), com o maior porcentual de população pobre e com a média de escolaridade mais baixa do México, no qual a educação não é nem cultural e nem linguisticamente pertinente, pois se desconsidera que, em torno a três de cada dez habitantes de Chiapas fala o espanhol como língua adicional. Ao se avaliar os procedimentos de letramento, a autora acha semelhanças e diferenças nas trajetórias e nas condutas adquiridas em torno a eles, em função da idade e os interesses das depoentes. Dentre os resultados parciais da pesquisa, mediante a análise da historicidade da pesquisadora - estreitamente vinculada com a das irmãs- a autora reconhece que não existia no entorno uma dicotomização radical entre a tradição oral e a escrita (HEATH, 2011) e nem uma sobrevaloração do ato de escrever ou saber ler nos primeiros anos de ensino fundamental entre as irmãs Ramos, pois no ambiente cultural rural dos anos setenta, a escrita se percebia como acessória em relação à fala aprimorada; a autora salienta o fato do letramento se tratar de uma prática social na qual interage a cultura herdada pelos antepassados de geração em geração, o entorno político e educativo do lugar e da época e as crenças dos antecessores em torno ao aprendizado da leitura e da escrita. Os eventos de letramento, por outro lado, devem analisar-se como parte de padrões socioculturais mais amplos (ANDERSON; IRVINE, apud SHOR, 1999), pois eles refletem os diversos padrões transculturais nos usos da linguagem oral e escrita, visto que os letramentos não são apenas processos cognitivos ou tarefas de (des)codificação, mas também tarefas sócias e práticas culturais enraizadas historicamente em uma comunidade de falantes (CASSANY; CASTELLÁ, 2010). Os letramentos são compreendidos, desta forma, como práticas sociais e concepções sobre a oralidade, a leitura e a escrita, gerando um conjunto de reflexões que a autora remete a seu entorno imediato balizando-se em Street (1999), Shor (1999), Cassany e Castellá (2010) e, primariamente, em Heath (2011).
ABSTRACT: The article ponders the initial literacy learning of four professional sisters from the interior of Mexico highlighting the concept of literacy events and the models analyzed by Shirley Brice Heath (2011) in her classic study of three North American families. Ramos takes up Cassany and Castellá's (2010) sociocultural and comprehensive view of the concept of literacy and, in order to make a comparison between literacy processes and literacy events, interviews each of the three sisters and later adheres to the analysis her own literacy process and oral acquisition. Through the autobiographical method and in-depth interview, the author aims to understand the successful ways of “dealing with” the written sources and acquiring the improved orality of four sisters -among them the researcher herself- in one environment (the mexican state of Chiapas), with the highest percentage of poor population and the lowest average education level in Mexico where education is neither culturally nor linguistically relevant because it is disregarded that around three out of ten inhabitants of Chiapas speak Spanish as an additional language. When considering the literacy procedures, the author finds similarities and differences in the trajectories and behaviors acquired about them, depending on the age and interests of the interviewees. Among the partial results of the research, through the analysis of the historicity of the researcher -closely linked with that of the sisters- the author acknowledges that there was no a strict dichotomization between oral and written traditions (HEATH, 2011) and no overvaluation of the act of writing or writing in the early years of elementary school among the Ramos sisters, because in the “peasant” cultural environment of the seventies writing was perceived as secondary in relation to eloquent oral speech. The author emphasizes the fact that literacy is a social practice in which the culture inherited by the ancestors, the political and educational environment of a given place and time, and the assumptions of the predecessors about the learning of reading and writing interact. On the other hand, literacy events should be viewed as part of broader sociocultural patterns, (ANDERSON; IRVINE apud SHOR, 1999) as they reflect the various transcultural patterns in the uses of oral and written language since literacies are not just cognitive processes or tasks of (de) coding but also social and cultural practices historically rooted in a community of speakers (CASSANY; CASTELLÁ, 2010). In this way, literacy is understood as social practice and conception about orality, reading and writing, generating a set of reflections that the author relates to her immediate surroundings based on Street (1999), Shor (1999), Cassany and Castellá (2010) and primarily in Heath (2011).
KEYWORDS: Literacy models, social and cultural practices, literacy events.
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