"Daquele filho vinha-lhe todo o bem e todo o mal": o ideal de abnegação materna em A Caolha
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A Caolha, Corpo Objetificado, Maternidade, AbnegaçãoResumo
O presente artigo parte da leitura do conto A Caolha (1903), de autoria de Júlia Lopes de Almeida. Instituímos o corpo como ferramenta de análise, uma vez que este marca a narrativa, tanto na condição física da protagonista, nomeando-a, quanto na exigência do labor extenuante. Esse mesmo corpo liga-se à maternidade, já que o conto versa sobre a relação dessa mulher com seu único filho, Antonico. A Caolha traça uma espécie de protótipo da abnegação materna. Uma vez que o imaginário sobre a mulher corre em descompasso com a existência de mulheres reais, tal construção idealizada nos leva a conceber um dado realçado pelo discurso histórico da própria maternidade. Tendo isso em mente, destacamos a vinculação do ideário materno desenvolvido no conto com o período de influência do Positivismo no Brasil. Assim, ressalta-se ainda mais a existência de um modelo feminino, baseado no cerceamento da sexualidade, construído ao longo da história e enraizado na cultura; o centro sensível desse ideário é a mãe perfeita, educadora dos filhos, “anjo do lar”, defensora dos desvalidos, domesticada pelas exigências familiares.
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