Entre o real e o ficcional: metamorfoses e ressignificações em Um acontecimento na vida do pintor-viajante, de César Aira
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https://doi.org/10.61389/revell.v2i29.6129Palavras-chave:
literatura argentina, pintor-viajante, ready-made, metamorfose.Resumo
O livro Um acontecimento na vida do pintor-viajante (2006), do escritor argentino César Aira, traz um embate bastante pertinente sobre as fronteiras entre o real e o ficcional, visto que o protagonista da história, o alemão Johann Moritz Rugendas, de fato existiu. Esse gesto retoma a técnica ready-made, à moda de Duchamp, conforme afirma Antelo (2006), na qual o objeto é retirado de seu local de origem e ressignificado por meio da arte. Dessa maneira, em nossa leitura, foi possível perceber que o romance não precisa e nem conseguiria ser igual à realidade. Vê-se que ele tem métodos próprios de se constituir e não compete com ela. Assim, para melhor entender essa questão, baseamos-nos, sobretudo, nas correspondências entre James e Stevenson (2017), bem como, nas ideias teóricas de Gallagher (2009). Além disso, outras dualidades fazem-se presentes na narrativa, como por exemplo, o diálogo entre imagem e texto, entre a loucura e a sanidade e a utilidade ou não da arte. Observa-se ainda uma metamorfose do protagonista Rugendas, a partir de um acidente que ele sofre durante a sua viagem para a Argentina e Chile. Ele fica com sequelas graves que desencadeiam uma mudança radical: a transformação de um artista famoso e amado, requisitado por seus fãs, a uma figura monstruosa, física e intelectualmente, que causa repúdio e afastamento. Tal experiência é bastante semelhante à vivida por Gregor Samsa, de Franz Kafka. Logo, para refletir acerca dessa monstruosidade do personagem, pautamos-nos em Cohen (2000) e sua teoria sobre os monstros.
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