Poema em 78 R.P.M.: o ritmo do jazz na poesia de Allen Ginsberg e Roberto Piva
Visualizações: 1054Keywords:
jazz, poesia moderna, prosódia, resistênciaAbstract
O ritmo não é um mero recurso formal, mas está intimamente ligado à sensibilidade do homem, refletindo toda sua inquietação. Como declara Candido (2006), “a difusão do jazz generaliza pelas classes da sociedade ocidental um ritmo “orquestral” reentronizado em triunfo, e violenta síncopa”, pois, a partir de seu sistema dissonante, define a sensibilidade de uma sociedade desvairada em meio ao caos da modernidade. O jazz, em sua essência, não busca o refinamento do som, mas sim um acúmulo do mesmo, culminando numa anarquia sonora. O contexto caótico é propício para a adoção de uma postura oposta à razão, utilizando como intermédio o delírio enquanto ruptura do individuo com a lógica racionalista socialmente instituída. Essa sensibilidade utópica que se faz presente tanto no jazz quanto na poesia moderna: o manifesto do sofrimento da queda do homem num grito de saxofone. Dessa forma, temos como objetivo analisar como dois poetas do século XX, Allen Ginsberg e Roberto Piva, em suas respectivas obras “Howl and other poems” (1956) e “Paranoia” (1963), exploram a linguagem do jazz em seus versos, a fim de expressar a revolta do sujeito em relação à racionalização abstrata da sociedade moderna, através da expressão livre de seus impulsos originais.
References
ARRIGUCCI JR., Davi. O guardador de segredos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
BERENDT, Joachim E. O jazz – do Rag ao Rock. São Paulo: Perspectiva, 1987.
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1977.
CANDIDO, Antonio. O estudo analítico do poema. 3 ed. São Paulo: Humanitas, 2006.
CESARINO, P. de N. “De duplos e estereoscópios: paralelismo e personificação nos cantos xamanísticos ameríndios”. Mana, vol.12, n.1, Rio de Janeiro: 2006.
CHAVES, Reginaldo S. Flanar pela cidade-sucata compondo uma estética da existência: Roberto Piva & seu Devir Literário Experimental (1961-1979). Dissertação (Mestrado em História do Brasil) - Centro de Ciências Humanas e Letras, Universidade Federal do Piauí. Teresina, p. 190. 2010.
CLEMENTE, Fabrício C. Estilhaços de visões: poesia e poética em Roberto Piva e Claudio Willer. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 122. 2012.
EISENSTEIN, Sergei. “Palavra e imagem”. In: EISENSTEIN, Sergei. O sentido do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2002, p. 13-50.
ELIOT, T. S. “A música da poesia”. In: ELIOT, T.S. De poesias a poetas. Trad. Ivan Junqueira. São Paulo: Brasiliense, 1991, pp. 38-56.
FUSSELL, Paul. Poetic meter and poetic form. New York: McGraw-Hill, 1979.
GINSBERG, Allen. Deliberate Prose: Selected Essays 1952-1995. New York: Harper Collins, 2000.
GINSBERG, Allen. Howl and Other Poems. Mansfield Centre: Martino Publishing, 2014.
GINSBERG, Allen. Uivo, Kadissh e outros poemas. Tradução e notas de Claudio Willer. Porto Alegre: L&PM, 2010.
HEINE, Stephanie. “Ebb and Flow: Breath-Writing from Ancient Rhetoric to Jack Kerouac and Allen Ginsberg”. In: ROSE; HEINE; al. Reading Breath in Literature. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2019, pp. 91-111.
HOBSBAWM, Eric J. História social do jazz. Trad. Angela Noronha. 4 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
JAKOBSON, Roman. Linguística. Poética. Cinema. São Paulo : Perspectiva, 1970.
KOUWENHOVEN, John. “What’s “American” About America”. In: O’MEALLY, R. (Org). The jazz cadence in American culture. New York: Columbia University Press, 1998, pp. 123-136.
LOPES, Rodrigo Garcia. Kerouac, o inventor da prosódia bop espontânea. Caderno 2, Jornal O Estado de S. Paulo. 1999. Disponível em: <http://www.elsonfroes.com.br/kerouac.htm>. Acesso em 10 de junho de 2019.
LOTT, Eric. “Double V, Double-Time: Bebop’s Politics of Style”. In: O’MEALLY, R. (Org). The jazz cadence in American culture. New York: Columbia University Press, 1998, pp. 457-468.
LÖWY, Michael. Walter Benjamin – Aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005.
LÖWY, M; SAYRE, R. Revolta e Melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade. Trad. Nair Fonseca. São Paulo: Boitempo, 2015.
MACKEY, Nathaniel. “Sound and Sentiment, Sound and Symbol”. In: O’MEALLY, R. (Org). The jazz cadence in American culture. New York: Columbia University Press, 1998, pp. 602-628.
O’MEALLY, Robert (Org). The jazz cadence in American culture. New York: Columbia University Press, 1998.
MUSTAIN, Megan Rust. "Utopian Rhythms: Ralph Ellison and the Jazz Aesthetic". Revista Espaço Acadêmico, nº 96, 2009.
PAZ, Octavio. O arco e a lira. Trad. Ari Roitman e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
PIVA, Roberto. Encontros. Org. Sergio Cohn. Rio de Janeiro: Azougue, 2009.
PIVA, Roberto. Paranoia. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2000.
RUSSELL, Jamie. “Introduction: Rebirth of Cool.” In: ______. The Pocket Essential: The Beat Generation. Harpender: Pocket Essentials, 2002.
SNEAD, James. “Repetition as a Figure of Black Culture”. In: O’MEALLY, R. (Org). The jazz cadence in American culture. New York: Columbia University Press, 1998, pp. 62-81.
SPITZER, Leo. “La enumeración caótica en la poesía moderna”. In :______. Linguística e historia literaria. 2 ed. Madrid: Editorial Gredos, 1989, pp. 247-291.
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 128.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE E EXCLUSIVIDADE E CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
Declaro que o presente artigo é original e não foi submetido à publicação em qualquer outro periódico nacional ou internacional, quer seja em parte ou na íntegra. Declaro, ainda, que após publicado pela REVELL, ele jamais será submetido a outro periódico. Também tenho ciência que a submissão dos originais à REVELL - Revista de Estudos Literários da UEMS implica transferência dos direitos autorais da publicação digital. A não observância desse compromisso submeterá o infrator a sanções e penas previstas na Lei de Proteção de Direitos Autorais (nº 9610, de 19/02/98).