O PORTUGUÊS CAIPIRA EM "HISTÓRIAS QUE A CECÍLIA CONTAVA"
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Sociolinguística, Oralidade, Literatura, Variante linguísticaResumen
RESUMO: Este estudo consiste em uma análise sociolinguística da variante popular utilizada por uma brasileira chamada Maria Cecília de Jesus, descendente de africanos, analfabeta, com idade avançada e que trabalhou como lavadeira em fazendas no estado de Minas Gerais, onde era conhecida entre as crianças pelas histórias que contava. O seu repertório compreende contos da literatura europeia – principalmente, portuguesa -, em sua maioria, contextualizados para o cenário brasileiro. Após investigações feitas por três irmãos que cresceram na fazenda Santa Cruz, em Piedade do Rio Grande, no sul do estado de Minas, e que, na infância, fizeram parte do público ouvinte, criou-se a hipótese de que, possivelmente, os antepassados de Cecília tomaram conhecimento dessas narrativas por meio dos proprietários de terra portugueses, dos quais foram escravos, e, posteriormente, transmitiram-nas a ela. Os contos foram reunidos em um livro, intitulado Histórias que a Cecília contava (CARVALHO et al., 2011), em que são apresentadas duas versões de cada conto: uma na linguagem dela e outra na de sua sobrinha, Maria das Dores Alves, deixando evidente as variantes linguísticas, à medida que vão surgindo gerações com maior nível de escolarização. Além disso, a obra contém um CD, no qual estão gravadas as histórias na voz de Cecília. Nesse sentido, a presente pesquisa objetiva analisar alguns fenômenos linguísticos da oralidade da contadora de histórias, explicando a sua formação individual, apontando os fatores que contribuíram para a sua existência e as modificações sofridas ao passar do tempo. Como forma de alcançar tal objetivo, foi selecionado o conto A garça, que compõe o livro, e, analisando o texto, fez-se um levantamento dos termos populares apresentados, dividindo-os em grupos, e selecionando alguns dos aspectos linguísticos presentes como objetos de investigação. Durante a pesquisa, observou-se a forma como contos tão semelhantes aos de fada em suas versões originais, não deixaram de despertar o interesse de quem os ouvia, mesmo ao serem reproduzidos em um português caipira, fugindo da norma padrão, o que revela a importância do reconhecimento das variantes linguísticas e da memória oral como riquezas culturais e históricas.
ABSTRACT: This study consists of a sociolinguistic analysis of the popular variant used by a Brazilian named Maria Cecília de Jesus, a descendant of Africans, illiterate, elderly and who worked as a laundress in farms in the state of Minas Gerais, where she was known among children for the stories she told. Her repertoire comprises tales of European literature - mainly Portuguese - mostly contextualized for the Brazilian scenario. After investigations by three brothers who grew up on the Santa Cruz farm in Piedade do Rio Grande, in the southern state of Minas Gerais, and who, as a child, were part of the listeners, it was hypothesized that, possibly, the ancestors of Cecília took knowledge of these narratives through the Portuguese landowners, of whom they were slaves, and later transmitted them to her. The short stories were collected in a book entitled Stories Cecilia told (CARVALHO et al, 2011), in which two versions of each tale are presented: one in her language variety and the other in her niece’s, Maria das Dores Alves, making evident the variation of the language, due to higher level of schooling.. In addition, the book is accompanied by a CD, in which are recorded the stories in Cecilia's voice. In this sense, the present research aims to analyze some linguistic phenomena of orality of the storyteller, explaining their individual formation, pointing out the factors that contributed to its existence and the changes suffered over time. As a way to achieve this goal, the tale The heron was selected, which composes the book, and, analyzing the text, a survey of the popular terms presented, dividing them into groups, and selecting some of the linguistic aspects present as objects of investigation. During the research, it was observed how fairy-like tales in their original versions, did not fail to arouse the interest of those who heard them, even when reproduced in a Portuguese hickory, avoiding the standard norm, which reveals the importance of the recognition of linguistic variants and oral memory as cultural and historical riches.
KEYWORDS: Sociolinguistic; Orality; Literature; Linguistic variety.
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