“Dar de beber a qume tem sede": a memótia traumática dos espaços de violência como elemento narrativo em Memórias do Cárcere (1953), de Graciliano Ramos

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Autores

  • Julia Ribeiro Nicolodi Universidade Estadual de Maringá

Palavras-chave:

Literatura de testemunho, Literatura e violência, Memória traumática

Resumo

Graciliano Ramos é conhecido por sua grande habilidade em tornar a experiência sua condição para escrita, sendo sempre fiel aos acontecimentos e à realidade que o cercaram para a construção de suas narrativas. Diferente do que vemos em suas obras ficcionais, mesmo que também sejam fiéis à realidade do escritor, em Memórias do Cárcere (1953) temos um Graciliano Ramos que revisita seu passado no intuito de construir sua última grande narrativa: o retrato dos seus dias como prisioneiro da Ditadura Vargas. Preso em 1936, o escritor alagoano faz da sua vivência pessoal o testemunho dos anos de perseguição política, em que sua memória é usada como manifestação artística para narrar o inenarrável. Pensando nisso, este artigo tem como principal objetivo entender como a violência testemunhada pode ser ferramenta essencial para a escrita do texto e até mesmo para o fortalecimento da literatura de testemunho, gênero literário tão comum aos países latino-americanos que vivenciaram as ditaduras do século XX. E para estudar e entender como a memória traumática pode ser usada a favor do texto literário, aqui utilizamos textos escritos por Walter Benjamin, Márcio Seligmann-Silva, Maurice Halbwachs, Valéria de Marcos e tantos outros nomes da área da teoria literária.

Biografia do Autor

Julia Ribeiro Nicolodi, Universidade Estadual de Maringá

Graduanda em Letras – Português/Inglês Na Universidade Estadual de Maringá - Brasil. E-mail: nicolodijul@gmail.com

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Publicado

24-12-2021

Como Citar

Nicolodi, J. R. (2021). “Dar de beber a qume tem sede": a memótia traumática dos espaços de violência como elemento narrativo em Memórias do Cárcere (1953), de Graciliano Ramos. VALITTERA - REVISTA LITERÁRIA DOS ACADÊMICOS DE LETRAS, 1(4), 38–56. Recuperado de https://periodicosonline.uems.br/index.php/valit/article/view/6346