A MANIFESTAÇÃO DE ÉTHE DISCURSIVOS NA LITERATURA DE ACONSELHAMENTO VOLTADA A SUJEITOS ANSIOSOS
DOI:
https://doi.org/10.61389/rbecl.v9i18.9712Palavras-chave:
Éthos, Análise do discurso, Aconselhamento, AutoajudaResumo
O presente estudo investiga a elaboração e a gestão do éthos discursivo em manuais brasileiros de aconselhamento comportamental sobre ansiedade, com o objetivo de apreender as estratégias de autorrepresentação mobilizadas pelos enunciadores para legitimar o discurso e persuadir o destinatário. O aporte teórico-metodológico repousa na análise do discurso francesa, com ênfase na noção de éthos recuperada em Maingueneau (2002a, 2002b). Adota-se uma abordagem qualitativa e comparativa para examinar o corpus composto pelas obras de Cury (2014), Zandoná (2018) e Amaral (2023). O resultado do empreendimento analítico aponta distintas estratégias: Cury (2014) baseia-se nos éthe de conselheiro e de médico-cientista, manejando um tom ao mesmo tempo alarmista e dogmático; Zandoná (2018) mobiliza o éthos de sacerdote, atenuando parcialmente o dogmatismo, mas mantendo traços injuntivos; e Amaral (2023), por sua vez, constrói um éthos cordial e horizontalizado, distanciando-se do caráter impositivo do aconselhamento. A análise evidencia a pluralidade de estratégias e a centralidade do éthos para o funcionamento do gênero manual de aconselhamento, indicando, na obra de Amaral (2023), uma configuração alternativa às mais tradicionais.
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