O QUE SERIA UMA EDUCAÇÃO SUFICIENTEMENTE BOA?

contribuições de Freud e Winnicott para a educação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.61389/rbecl.v9i18.9379

Palavras-chave:

Psicanálise e educação, Educação suficientemente boa, Freud e educação, Winnicott e educação

Resumo

Este artigo tem como objetivo investigar o conceito de “educação suficientemente boa” a partir das contribuições da psicanálise, em especial das ideias de Sigmund Freud e Donald Winnicott. A questão norteadora deste estudo é: o que seria uma educação suficientemente boa? O estudo parte da problematização da educação tal como vista em Freud em articulação com as contribuições teóricas de Winnicott para este campo interdisciplinar. Afirmamos por meio desta análise que uma educação não deve se restringir à transmissão de conteúdos de maneira utilitária, mas sim criar um ambiente facilitador onde os sujeitos possam desenvolver sua espontaneidade e seu sentido de pertencimento ao mundo. A partir das ideias de Freud sobre a educação como ofício impossível e do conceito de “mãe suficientemente boa” de Winnicott (Winnicott, 1983b [1965]), o estudo sugere que a função do educador não é apenas a de transmitir conhecimento, mas também a de proporcionar um espaço em que o aluno possa construir sua própria relação com o saber e com o mundo. Metodologicamente, a pesquisa fundamenta-se em uma revisão teórica da literatura psicanalítica, com ênfase nas obras de Freud e Winnicott, e em sua interlocução com teóricos contemporâneos da educação, especialmente Hannah Arendt e Bernard Charlot, cujas contribuições atravessam os séculos XX e XXI. O objetivo é estabelecer um diálogo crítico entre psicanálise e educação, identificando pontos de convergência e tensão entre esses campos. Para orientar essa articulação, recorre-se à abordagem epistemológica de Thomas Kuhn, cuja noção de paradigma oferece subsídios para compreender as transformações e os deslocamentos conceituais que permeiam esse encontro teórico. Conclui-se que uma educação suficientemente boa não busca a perfeição, mas sim a construção de experiências em contato com outros seres humanos, num ambiente em que o aprendizado seja significativo e possibilite ao estudante desenvolver uma relação criativa e saudável com o mundo.

Biografia do Autor

Thiago Nascimento, Universidade de São Paulo

Mestrando em Educação no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Universidade de São Paulo (USP) - Brasil; Grupo de Pesquisa do Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a Infância - LEPSI (IP/FEUSP); Bolsista da CAPES.

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Publicado

2025-08-04

Como Citar

Nascimento, T. (2025). O QUE SERIA UMA EDUCAÇÃO SUFICIENTEMENTE BOA? : contribuições de Freud e Winnicott para a educação. REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E LINGUAGEM, 9(18), 146–169. https://doi.org/10.61389/rbecl.v9i18.9379