ECOS DE RESISTÊNCIA

narrativas e percepções sobre educação das relações étnico-raciais em uma comunidade de remanescentes quilombolas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.61389/rbecl.v9i18.9652

Palavras-chave:

Educação, Relações Étnico-Raciais, História Oral, Cultura afro-brasileira

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar as percepções sobre a Educação das Relações Étnico-Raciais em uma comunidade de remanescentes quilombolas do Vale do Paraíba, por meio das narrativas de docentes e mestres jongueiros, com destaque para a valorização da cultura afro-brasileira no espaço escolar. Parte-se da compreensão de que a escola pode ser um espaço de formação para a diversidade e enfrentamento ao preconceito. As discussões abordam o papel da educação na construção de uma sociedade mais justa, menos desigual e com respeito às diferenças, sendo a implementação da Lei 10.639/03 e das Diretrizes Curriculares Nacionais elementos centrais para esse processo. A pesquisa adota abordagem qualitativa, utilizando-se da metodologia da História Oral. Foram entrevistados quatro docentes dos anos iniciais do Ensino Fundamental e dois mestres do jongo e/ou lideranças da associação quilombola local. As entrevistas foram realizadas com base em roteiro semiestruturado, gravadas, transcritas e textualizadas, priorizando a autonomia dos participantes e o respeito às suas especificidades. O uso da História Oral permitiu compreender as experiências dos colaboradores como fonte legítima de produção de conhecimento, reconhecendo suas memórias, subjetividades e identidades no contexto social e educacional da comunidade. As análises revelam desafios históricos, como o silenciamento das identidades negras e a reprodução de um sistema educacional monocultural, pautado em paradigmas eurocêntricos e no mito da democracia racial. As falas evidenciam um processo de subalternização da cultura afro-brasileira, inclusive dentro da própria comunidade estudada, e apontam a urgência de estratégias pedagógicas que valorizem os saberes locais, como o jongo, enquanto expressão de resistência e afirmação identitária. A atuação do pesquisador enquanto mediador permitiu o estabelecimento de vínculos de confiança e afetividade, proporcionando experiências marcantes durante o trabalho de campo e fortalecendo a relação com a comunidade. A devolutiva das informações obtidas na pesquisa foi pensada como forma de colaboração para a construção de um legado e valorização da cultura local. Conclui-se que a inserção da Educação das Relações Étnico-Raciais no cotidiano escolar é uma via potente para a desconstrução de práticas discriminatórias, para a valorização da cultura afro-brasileira e para a promoção de uma pedagogia antirracista, decolonial e comprometida com a equidade racial.

Biografia do Autor

Luis Henrique Macedo e Silva, Universidade de Taubaté

Mestrando em Educação no Programa de Mestrado Profissional em Educação, Universidade de Taubaté (UNITAU); Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza - Brasil.

Suzana Lopes Salgado Ribeiro, Universidade de Taubaté

Doutora em História Social no Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade de São Paulo (USP); Universidade de Taubaté – Brasil; Núcleo de Estudos em História Oral, Neho – USP, Grupo de Estudos em Novas Narrativas, GENN - USP.

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Publicado

2025-08-04

Como Citar

Macedo e Silva, L. H., & Ribeiro, S. L. S. (2025). ECOS DE RESISTÊNCIA : narrativas e percepções sobre educação das relações étnico-raciais em uma comunidade de remanescentes quilombolas. REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E LINGUAGEM, 9(18), 349–369. https://doi.org/10.61389/rbecl.v9i18.9652