Chamada para publicação - 2021 - v.1, n.20 - As pesquisas sobre Gênero, Sexualidade e Relações Étnico-raciais: perspectivas, reverberações e desafios de uma História do Presente (e do passado)

18-01-2021

PROPOSTA DE DOSSIÊ TEMÁTICO

 

1. TÍTULO DA PROPOSTA DO DOSSIÊ

 

As pesquisas sobre Gênero, Sexualidade e Relações Étnico-raciais: perspectivas, reverberações e desafios de uma História do Presente (e do passado)

 

2. EMENTA

 

2.1. RESUMO DA PROPOSTA: Serão aceitos para avaliação trabalhos que versem sobre um dos eixos norteadores ou mais de um interseccionados – GÊNERO, SEXUALIDADE E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS – desde que voltados ao escopo temporal do passado e do presente brasileiros. Nesse sentido, são bem-vindas propostas no âmbito das Ciências Humanas em Geral e por meio de diversas abordagens teóricas possíveis, articuladas a movimentos de problematização históricos e culturalmente situados. Assim, a pesquisa acadêmica sobre os temas em questão é vista como urgente e necessária em relação a uma agenda que visa eliminá-la, e a tudo o que ela representa, do meio social, a começar pela escola. Dessa forma, o objetivo deste Dossiê é o de reunir resultados de pesquisas atuais, sejam concluídas ou em andamento, que têm os temas Gênero, Sexualidade e Relações Étnico-raciais como seu objeto de estudo, ao mesmo tempo em que dialoguem com o contexto sócio-político-cultural do Brasil em meados do século XXI.

 

2.2.1. Descrição e enquadramento da proposta

 

Nos últimos anos, testemunhamos a ascensão de um movimento reacionário, constituído por determinados setores conservadores e religiosos da sociedade e apoiado por políticos parlamentares, que tem direcionado seus esforços ao aniquilamento das árduas conquistas dos Movimentos Feminista, do Movimento Negro e de LGBTs[1] no âmbito das políticas públicas, sobretudo educacionais. Nessa recente “cruzada”, promovem-se discursos como a “ideologia de gênero”, disseminada de modo a atingir a sociedade alheia ao tema, principal justificativa para a censura dos termos “gênero” e “orientação sexual” no Plano Nacional de Educação em 2014 e nos Planos Estaduais e Municipais em sequência. Nesse âmbito, a reforma empresarial da educação não é acidental, é um projeto de política agressiva que bitola a qualidade do ensino nacional gerando efeitos colaterais devastadores ao mesmo tempo em que permitem o controle político e ideológico da instituição e o aparato escolar. Assim, a homogeneização e a negação da pluralidade repercutem no negligenciamento das diferenças, na padronização de comportamentos e na negação do outro, subalterno que tem aparição como alguém que precisa “se ajustar”. O projeto “Escola sem partido”, o alarmante crescimento das taxas de feminicídio e a ascensão do debate acerca da existência de uma suposta “ideologia de gênero” são exemplos disso. Podemos destacar outros fatos como o de que, na pandemia de Covid-19, quem mais morre são os negros, que eles compõem quase metade da população brasileira, sendo também os menos assistidos governamentalmente ou que mulheres e negros têm salários menores que homens brancos ou, ainda, que houve, historicamente, encarceramento em massa de negros no Brasil. Tais mecanismos de proliferação de ideias, práticas e reproduções estão caracterizados por práticas e representações que dizem respeito a questões de gênero, sexualidade e relações étnico-raciais.

Para situar o lugar teórico por meio do qual situamos esta proposta, vale mencionar que, a partir dos anos 70, uma ampla forma de produzir ciência na academia se voltou para questões de gênero e de sexualidade. Mais tarde, questões étnico-raciais passaram a ser incorporadas individual ou interseccionalmente.Academicamente, tal movimento emergiu a partir da criação dos departamentos Women Studies, ampliado posteriormente para os Gender Studies, multiplicando-se para cada vez mais instituições e núcleos de pesquisa mundo afora. Chegaram a ser estabelecidos não apenas núcleos e departamentos de pesquisa, mas houve, também, a instauração de periódicos e a expansão de publicações, além de elaboração e execução de eventos que se voltaram para estas questões.

Acerca dos estudos de gênero, podemos destacar a existência dos estudos feministas e dos estudos que articulam o conceito de gênero na interseccionalidade com o conceito de sexualidade (é o caso dos estudos queer, por exemplo). Para pensar nas formas por meio das quais o patriarcado e o machismo se articulam às relações sociais é preciso destacar que tal organização pode implicar na redução da participação de determinados seres humanas em detrimento de outros enquanto participantes sociais efetivos. Isso acarreta o silenciamento e a inviabilização da participação, mesmo depois da conquista do sufrágio feminino, fazendo com que inúmerasmulheres permaneçam marginais, por exemplo, na política, ainda que constituam maior número em relação à população de homens no Brasil. Vale destacar, portanto, que não basta exigir acesso às atividades próprias dos homens, mas a valorização equivalente, sem hierarquias, porque muitas vezes o comportamento dos homens é visto como universalizante e o das mulheres como reduto de uma posição social particular. Voltar-se para o estudo dos gêneros, na interface com expressões e práticas sociais em torno da sexualidade pode tornar possível explorar classificações, normatividades, regulações e convenções a partir de recortes como hetero-homossexualidade, economia, aspectos sexuais e afetivos.

Em relação aos estudos étnico-raciais, pode ser mencionado que o fenômeno do racismo ganha roupagens distintas com o passar do tempo. Se considerarmos que 47% da população brasileira é negra e vive em condições inferiores aos brancos, no que diz respeito ao IDH, por exemplo, isso torna cada vez mais abissal a distância entre negros e brancos no país. O pensamento histórico-sociológico nacional ou oriundo de fontes estrangeiras frequentemente pode se voltar para reflexões acerca de ações afirmativas e, também, para a inserção do negro em áreas de conhecimento e mesmo no mercado de trabalho ou acerca das condições financeiras.  Assim, a afro-filosofia se caracteriza como um modo de pesquisadores negros elaborarem posicionamentos e concepções de mundo aliadas à prática política de transformação, considerando-se a urgência da necessidade de inserção nas esferas de poder.

 

3. NOME DOS PROPONENTES E DADOS CURRICULARES

 

Matheus Estevão Ferreira da Silva (Mestrando em Educação)

Currículo: Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) (Conceito CAPES 6) da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus de Marília e Graduando em Psicologia pela Faculdade de Ciências e Letras (FCL/UNESP), Campus de Assis; Pedagogo (2018) pela FFC/UNESP/Marília; e Visiting Student Researcher (2015) pela San Diego State University (SDSU) (San Diego, Califórnia, Estados Unidos da América).

Lattes:http://lattes.cnpq.br/1278661168384546

ORCID:https://orcid.org/0000-0002-2059-6361

 

Éderson Luís da Silveira (Doutor em Linguística)

Currículo:Doutor (2020) e Mestre (2016) em Linguística pelo Programa de Pós-graduação em Linguística (PPGLing) (Conceito CAPES 6) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Graduado em Letras-Português (2013) pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG-RS).

Lattes:http://lattes.cnpq.br/9636609353277293

ORCID:http://orcid.org/0000-0002-8483-4656

 

Lucas Rodrigues Lopes (Doutor em Linguística Aplicada)

Currículo: Professor Adjunto da Universidade Federal do Pará (UFPA); Doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (2018); Mestre em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) (2010); Licenciado e Bacharel em Letras Inglês e Português pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMPINAS) (2007).

Lattes: http://lattes.cnpq.br/8141687357119122

ORCID: http://orcid.org/0000-0002-9936-3666

 

 

REFERÊNCIAS UTILIZADAS (mas não esgotáveis acerca do assunto)

 

 

ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.

 

BOGO, Ademar. Identidade e luta de classes. São Paulo: Expressão popular, 2008.

 

BUTLER, Judith. Gender trouble: feminism and the subversion of identity. New York: Routledge, 1990.

 

CHAMAYOU, Grégoire. A sociedade ingovernável: uma genealogia do liberalismo autoritário. São Paulo: Ubu, 2020.

 

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Ática, 1978.

 

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. 12. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1997. 

 

HOOKS, Bell. Yeaming: race, gender and cultural politics. London: Tumaround, 1991.

 

LOURO, Guacira Lopes. Currículo, gênero e sexualidade. Porto: Porto Editora, 2000.

 

LOURO, Guacira Lopes. Gênerosexualidade e educação. Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.

 

MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flávia (Orgs.). Feminismo e política. São Paulo: Boitempo, 2014.

 

RUBIN, G. The traffic in women: notes on the “political economy of sex”. In: REITER, Rayna (Org.). Toward an anthropology of women. New York: Monthly Review Press, 1975.

 

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

 

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão a Bolsonaro. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2019.


[1] Atualmente, a sigla completa é LGBTQQICAPF2K+.