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Apresentação:
Esta 5ª edição da Revista de Ciências Sociais da UEMS disponibiliza a você leitor dois artigos e um ensaio. O primeiro artigo destaca os Percursos Profissionais de Tatuadores e Piercers em Luanda, que oferece uma análise sociológica aprofundada sobre a trajetória profissional e social de tatuadores e piercers naquela cidade de Angola. Além disso, discute a busca por qualificação e as dificuldades enfrentadas, como a falta de reconhecimento legal da profissão e a escassez de materiais, enfatizando a importância da biossegurança e da relação de confiança com o cliente. O segundo artigo enfatiza o legado da educadora e pesquisadora Amélia Americano Franco Domingues de Castro na Educação Brasileira, fruto de uma pesquisa histórico-documental e biográfico-intelectual que buscou investigar a atuação de Amélia Americano Franco Domingues de Castro e suas contribuições para a renovação do ensino superior e da formação docente no Brasil. O mesmo mostra a questão de gênero na universidade e seu legado que permanece altamente relevante para os debates atuais sobre equidade, inovação didática e formação de professores. O ensaio, por fim, se dedica à reflexão teórica sobre os fundamentos da vida moderna para então apresentar contribuições cruciais sociológicas que continuam sendo um desafio central e persistente na reflexão sociológica contemporânea.
Dr. Ailton Souza e Dr. Jean Camargo
(Editores)
Artigos
Chamada para Dossiê Temático:
A Revista de Ciências Sociais da UEMS recebe artigos em fluxo continuo em qualquer periodo do ano, bem como dossiês temáticos organizados por pesquisadores vinculados a outras instituições de ensino e pesquisa nacional ou internacional. A titulação mínima para submissão de artigo ou dossiê é de possuir título de mestrado. Todavia, recomenda-se a autores sem a titulação mínima a publicação conjunta com autores com a titulação mínima recomendada.
CHAMADA ABERTA: Até 15/03/2026
A organização do trabalho didático: a história de uma categoria conceitual e procedimentos de análise nas ciências humanas e sociais
A organização do trabalho didático constitui um eixo fundamental para compreender a produção histórica da escola moderna e suas funções sociais. A partir das reflexões de Comenius, que sistematizou princípios da divisão do trabalho pedagógico, do uso racional do tempo escolar e da elaboração de materiais especializados, configurou-se uma base teórica que, ao longo dos séculos, foi apropriada e transformada conforme os processos de secularização, racionalização e burocratização da sociedade. A partir do século XIX, esses fundamentos tornaram-se políticas de Estado, estruturando a escola como instituição central para a reprodução das relações sociais e para a consolidação da hegemonia burguesa. Essa discussão foi largamente desenvolvida por Alves (2004) no livro “A produção da escola pública contemporânea”.
Alves (2004) sustenta que a produção da escola moderna é o elemento revelador de sua natureza, o que perpassa dentre outros aspectos, a produção da clientela escolar e as funções sociais da escola. Nessa direção, no final do século XIX a escola ao atender, além dos filhos dos capitalistas, os recém desempregados e expulsos das fábricas, filhos dos trabalhadores, se transformou em uma instituição que prometia impulsionar o desenvolvimento social.
No contexto brasileiro, a influência desse modelo tornou-se ainda mais evidente ao longo do século XX, em especial a partir da Reforma Francisco Campos e da consolidação dos manuais escolares como instrumentos centrais na organização do trabalho didático. Essa categoria conceitual permite compreender como se estruturaram não apenas os tempos e materiais pedagógicos, mas também as formas de regulação das práticas docentes e da experiência escolar. A partir dela, torna-se possível analisar as tensões permanentes entre projetos de formação e disputas político-ideológicas, que se manifestam no cotidiano das salas de aula, na produção de clientelas escolares e na reprodução das desigualdades sociais.
Este dossiê temático convida pesquisadoras e pesquisadores das ciências humanas e sociais a refletirem criticamente sobre a historicidade da organização do trabalho didático, destacando-a como chave analítica para investigar suas categorias e procedimentos, e, assim, contribuir para o debate sobre os sentidos e os limites da escola contemporânea.