O heterodiscurso em A cidade ausente, de Ricardo Piglia
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A fonte primária deste estudo, A cidade ausente, de Ricardo Piglia, foi escrita em 1992, 10 anos após o primeiro governo democrático pós-ditatorial argentino. De acordo com Avelar (2003), esta obra é uma alegoria do luto e da (re)construção da memória pós-ditatorial, visto que Elena, personagem deste romance, é uma mulher-máquina ameaçada de perder vários relatos importantes para a polícia argentina. Júnior, personagem central do romance, assim como a massa populacional após a ditadura, não tem muitas informações acerca da importância destes relatos testemunhais. Ademais, a narrativa conta que o estado falsifica as histórias em um museu, muda o nome das testemunhas, faz com que as pessoas que estão vivas sejam alucinadas a pensar que viveram outras histórias e não as suas verdadeiras. Aos poucos o leitor adentra neste quebra-cabeça ficcional e compreende que muitos relatos já foram perdidos. Apresentaremos, a partir dos conceitos bakhtinianos de plurilinguismo/heterodiscurso, dialogismo, hibridização e alegoria, essencialmente, o mosaico de vozes/discursos presentes no romance eleito para esta análise. Portanto, este trabalho analisa A cidade ausente como heterodiscurso desenvolvido em uma cidade cuja ausência é identificada por uma alienação advinda da falta de elaboração ou inconsciência do luto.