Inovação e a BNCC do Ensino Médio
efeitos da política curricular sobre as docências das Ciências Humanas
DOI:
https://doi.org/10.61389/inter.v16i47.9890Keywords:
Inovação, Professor, Michel FoucaultAbstract
Este artigo analisa os efeitos do discurso da inovação na constituição do professor de Ciências Humanas no Ensino Médio, tomando como lócus investigativo uma escola do Rio Grande do Sul. A pesquisa problematiza a inovação como um imperativo categórico da contemporaneidade que foi impulsionada pela homologação de políticas curriculares como a Base Nacional Comum Curricular – BNCC e as Diretrizes Curriculares do Ensino Médio – DCEM. As bases teóricas encontram-se nas ferramentas foucaultianas da racionalidade neoliberal e da análise do discurso. Em termos metodológicos, a investigação pode ser caracterizada como pós-crítica. O material empírico examinado consiste em enunciações de um grupo focal realizado com oito professores que atuavam na área das Ciências Humanas no Ensino Médio. A estratégia analítica utilizada para operar sobre o material foi a análise do discurso, como discutido por Michel Foucault. A análise mostrou as seguintes regularidades: a captura do docente pelo discurso da inovação, o vínculo entre a inovação e a racionalidade neoliberal e os efeitos do discurso da inovação sobre as práticas pedagógicas dos educadores que estão associados ao esvaziamento e o utilitarismo do conhecimento pertencente à área das Ciências Humanas e à necessidade de mais tempo ou mesmo um tempo de ócio para incorporar a inovação na escola.
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