Educação escolar ribeirinha e o currículo na Amazônia paraense

o discurso da diversidade e a urgência do amazonizar como verbo de ação

Authors

DOI:

https://doi.org/10.61389/inter.v16i47.9909

Keywords:

Currículo, Diversidade, Povos Ribeirinhos

Abstract

O artigo discute as tensões entre as políticas curriculares nacionais e as territorialidades amazônicas, com foco nas especificidades da educação escolar ribeirinha do estado do Pará. O objetivo é analisar criticamente o Documento Curricular do Estado do Pará – DCEPA (2022 – atual), verificando a presença e ausência das especificidades ribeirinhas em sua estrutura, problematizando sua articulação com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Novo Ensino Médio (Lei nº 13.415/2017). A metodologia pautou-se na análise documental, utilizando as dimensões de Cellard (2012) e a categoria complementar “ausência e presença”. Os resultados apontam uma contradição central: embora o DCEPA adote uma concepção sócio-histórica freireana e defenda a formação humana integral, ele mantém o alinhamento com a lógica de competências e habilidades da política nacional. Verificou-se que a menção aos povos ribeirinhos é predominantemente discursiva, falhando em promover a integração crítica e transformadora de seus conhecimentos na matriz curricular. Conclui-se, evidenciando a urgência de amazonizar o currículo, compreendido como um projeto de resistência e desobediência epistêmica, capaz de superar o viés colonial e tecnicista em favor das realidades amazônicas.

Author Biographies

Leliane Da Costa Ferreira, Universidade do Estado do Amapá

Afuaense ribeirinha da Amazônia Marajoara. Professora do Curso de Licenciatura em Química da Universidade do Estado do Amapá. Graduada em Licenciatura em Química pela Universidade Do Estado do Amapá (2019). Mestra em Ensino de Ciências e Matemática pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática - PPGECIMA/UFS (2023). Pesquisa as seguintes áreas: Educação em Ciências/Química, Educação Intercultural, Diálogo de Saberes Tradicionais e científicos, Educação Ribeirinha na Amazônia.

Edinéia Tavares Lopes, Universidade Federal de Sergipe

Possui graduação em Licenciatura em Química, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Educação. É professora Associada da Universidade Federal de Sergipe. Atua nos seguintes temas: interculturalidade, decolonialidade, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, Educação do Campo, Educação das Relações Étnico-Raciais, formação de professores, Educação em Ciências. Participou do PIBID desde 2009, como coordenadora de Área do Projeto PIBID/QUÍMICA-ITA, sendo também Coordenadora de Gestão e Coordenadora Geral. Foi coordenadora de Área do Programa de Consolidação das Licenciaturas PRODOCÊNCIA/UFS-CAPES - Edital 2009 e Coordenadora Geral do PRODOCENCIA/UFS-CAPES - Edital 2013. Professora e orientadora no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED-UFS), que oferta os cursos de Mestrado e Doutorado em Educação, e no PPGECIMA (UFS), que oferta o Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática. Membro da coordenação Colegiada do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da UFS (NEABI-UFS). Na área de Popularização da Ciência coordena, entre outros, o Projeto Relações que realiza, desde 2006, o evento OCMEA, que atendeu, por meio das oficinas ofertadas, em torno de 15.000 alunos da Educação Básica de Sergipe e Sertão Bahiano. Faz parte da Coordenação Geral do Fórum de Educação Escolar Quilombola de Sergipe.do Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena. É coordenadora da instituição na Ação Saberes Indígenas na Escola da UFS (ASIE-UFS) Edição 2024. É membra da Rede Nordeste da ASIE. É da coordenação editorial da Revista Fórum Identidades. É membra do CALEIDOSCÓPIO DAS AÇÕES AFIRMATIVAS: AVALIAÇÕES, EXPERIÊNCIAS E ALCANCES DAS POLÍTICAS DE COTAS NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS, projeto desenvolvido em rede em várias instituições de ensino superior brasileiras, atuando com foco nas políticas afirmativas para indígenas e quilombolas.

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Published

2025-12-18

How to Cite

Ferreira, L. D. C., & Lopes, E. . T. (2025). Educação escolar ribeirinha e o currículo na Amazônia paraense: o discurso da diversidade e a urgência do amazonizar como verbo de ação. INTERFACES DA EDUCAÇÃO, 16(47). https://doi.org/10.61389/inter.v16i47.9909

Issue

Section

Dossiê: Implicações das políticas curriculares em âmbito nacional e internacional