LETRAMENTO E CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DE TEXTOS EM LÍNGUA TERENA
Visualizações: 516Palavras-chave:
Letramento, Terena, Língua Indígena.Resumo
Este trabalho tem como objetivo geral discutir sobre o processo de produção de textos em língua indígena, por parte de professores Terena do município de Miranda, Estado do Mato Grosso do Sul. Tendo escolhido o tema da primeira narrativa a ser produzida, os professores Terena preferiram, surpreendentemente, primeiro escrevê-la em português (“O Tuiuiú e o Sapo”) para, depois, traduzi-la para a língua indígena (“Kóho Yoko Hovôvo”). Discursos acerca da produção e a utilização do texto “Kóho Yoko Hovôvo” em um evento de letramento ocorrido durante um acampamento de retomada de terra na aldeia Cachoeirinha constituíram foco de análise. A análise dos dados foi realizada considerando que (a) toda prática discursiva revela processos de construção identitária (MAHER, 1996, 1998; HALL, 2001), (b) em contextos bilíngües, as línguas não ocupam compartimentos isolados (Maher, 2007a) e há uma conjunção entre as práticas de letramento nas duas línguas em questão (HORNBERGER,1989/2003). Os resultados demonstraram que (a) o biletramento que emergiu nas oficinas de textos focalizadas evidencia um procedimento cultural Terena que encontra justificativa nas construções identitárias desse povo ao longo da história - aprender a língua do outro sempre foi uma de suas estratégias políticas (LADEIRA, 2001); (b) a escrita das duas versões da história do tuiuiú e o sapo compuseram um quadro conflituoso, na medida em que questões de caráter político e sociocultural (escrever primeiro em Português) foram, posteriormente, confrontadas com questões de caráter essencialmente lingüístico (escrever em Terena).
Referências
BAKER, C. Fundamentos de educación bilingüe y bilingüismo.Tradução de Ángel Alonso-Cortés. Madrid: Ediciones Cátedra., 1997.
CAVALCANTI, M.C. e MAHER, T. M. O índio, a leitura e a escrita. O que está em jogo? Campinas, CEFIEL/IEL/UNICAMP, 2005.
CELANI, M. A. “Afinal, o que é Lingüística Aplicada?” In: Paschoal, M.S, Z. e Celani, M. A. Linguística Aplicada . São Paulo: EDUC, 1992.
CERTEAU, M. A Invenção do Cotidiano: Artes de Fazer. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
GILVAN, M.O. “O que quer a Lingüística e o que se quer da Lingüística: a delicada questão da assessoria lingüística ao movimento indígena”. In: In: GRUPIONI, L.D.B. Formação de Professores Indígenas: repensando trajetórias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. pp.175-190, 2006.
GOODY, J. (ed.). Literacy in Tradicional Societies. Cambridge:Cambridge University Press, 1968.
_________The Domestication of the Savage Mind. Cambridge: Cambridge University Press, 1977.
________ The Interface between the Written and the Oral.Cambridge: Cambridge University Press, 1987.
HALL, S. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guaraciara Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A (5ª ed.), 2001.
HAMEL, R. E. “Direitos Lingüísticos como Direitos Humanos: Debates e Perspectivas”. In: Oliveira, G. M. (org.) Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos – Novas Perspectivas em Política Lingüística. São Paulo: Mercado de Letras/ALB; Florianópolis: IPOL, 2003.
HORNBERGER, N.H. (org). Indigenous Literacies in the Americas: language planning from the bottom up. Berlin: Mouton, 1996.
HORNBERGER, N.H. “Criando Contextos Eficazes de Aprendizagem para o Letramento Bilíngüe”. Tradução de Ana Antônia de Assis-Peterson e Maria Inês Pagliari Cox. In: COX, M.I.P. e ASSIS-PETERSON, A.A. (Orgs.). Cenas de Sala de Aula. Campinas, SP: Mercado de Letras. pp. 23-50, 2001.
HORNBERGER, N. H. (Ed.). Continua of Biliteracy: An Ecological Framework for Educational Policy, Research and Practice in Multilingual Settings. Clevedon, UK: Multilingual Matters, 2003.
HORNBERGER, N. H. Biliteracidad. Cochabamba, Bolívia: PROEIB Andes/ University of Pennsylvania. (Mimeo)., 2005.
____________“Voz y Biliteracidad en la Revitalización de Lenguas Indígenas: Prácticas Contenciosas en Contextos Quechua, Guarani y Maori”. QINASAY Revista e Educación Intercultural Bilíngüe. N.3. Cochabamba, Bolívia: PROEIB Andes/GTZ. pp. 119-136, 2005b.
HORNBERGER e KING. Bringing the Language Forward: School based initiatives for Quechal language revitalization in Ecuador and Bolivia. In: Hornberger, N. H. (org.) Indigenous Literacies in the Americas: Language Planning from the Bottom up. Berlin: Mouton, pp. 299-320., 1996.
HORNBERGER, N. H. e SKILTON-SYLVESTER, E. Revisiting the continua of biliteracy: International and critical perspectives. In: Continua of Biliteracy: An Ecological Framework for Educational Policy, Research and Practice in Multilingual Settings. Clevedon, UK: Multilingual Matters. pp., 2003.
LADEIRA, M.E.M. Língua e História- Análise Sociolingüística em um Grupo Terena. São Paulo: USP. Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas. Tese de Doutorado, 2001.
LANDABURU, J. “Oralidad y escritura en las sociedades indígenas”. In: Lopez, L.E. e Jung, I. (orgs) Sobre las huellas de la voz – Sociolingüística de la oralidad y la escritura en su relación con la educación. Madri, Espanha: Ediciones Morata/PROEIB- Andes/DSE., 1998, pp. 39-82.
LEVI-STRAUSS “Lição de Escrita”. In: Tristes Trópicos. Lisboa, 1986, edições 70, pp.290-301.
LOPEZ, L.E. “To Guaranize: a verb actively conjugated by the Bolivian Guaranis”. In: HORNBERGER, N.H. (org). (1996). Indigenous Literacies in the Americas: language planning from the bottom up. Berlin: Mouton. P. 321-353., 1996.
MAGALHÃES, M.C.C. (1994). “Etnografia Colaborativa e Desenvolvimento de Professor.” Trabalhos de Lingüística Aplicada. Campinas: UNICAMP/IE, nº 23, pp. 71-78.
______________(1996). “Contribuições da pesquisa sócio-histórica para a compreensão dos contextos interacionais da sala de aula de línguas: foco na formação do professor”. The ESPecialist, v. 17,nº 1, São Paulo: Educ-PUC-SP.pp1-18.
______________“Projetos de Formação Contínua de Educadores para uma Prática Crítica.” The Especialist ,v19. p. 169-184, 1998.
_____________“A Linguagem na Formação de Professores Reflexivos e Críticos. In: Magalhães, M.C.C. (org.) A Formação do Professor como um Profissional Crítico: linguagem e reflexão. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.
_____________“Formação Contínua de Professores: sessão reflexiva como espaço de negociação entre professores e pesquisador externo” In: FIDALGO, S.S. e SHIMOURA A. S. (orgs.). Pesquisa Crítica de Colaboração. Um Percurso na Formação Docente. São Paulo: DUCTOR, PUC-SP, P.97-120, 2007a.
__________ “A Pesquisa Colaborativa em Lingüística Aplicada”. In: FIDALGO, S.S. e SHIMOURA A. S. (orgs.). Pesquisa Crítica de Colaboração. Um Percurso na Formação Docente. São Paulo: DUCTOR, PUC-SP, 2007 b, p..148-157,
MAHER, T. M “Língua Indígena e Língua Materna e os diferentes modelos de Educação Indígena”. REVISTA TERRA INDÍGENA, 1991b, no 60:52-61.
___________ “Do Casulo ao Movimento: a suspensão das certezas na educação bilíngüe e intercultural. In: Cavalcanti.M.C. e Bortoni-Ricardo, S. M. ( orgs.) Transculturalidade, Linguagem e Educação. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2007a pp. 67-94
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Diretrizes para uma política nacional de educação escolar indígena. Cadernos de Educação Básica, série institucional, Brasília, volume 2, 1994.
_____________Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEI). Brasília: MEC/SEF/Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas., 19
_____________Resolução CEB No 3. Brasília: Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Educação básica, 1999.
MOITA LOPES, L.P. (Org.). Por uma Lingüística Aplicada INDISCIPLINAR. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
MORI, A. C. “Aspectos (Sócio) - Lingüísticos dos Sistemas Ortográficos das Línguas Amazônicas no Peru”. In: SEKI, L. (org). Lingüística Indígena e Educação na América Latina. Campinas: Ed. da Unicamp, 1993, pp. 217-230.
OLSON, D.R. O Mundo no Papel: as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita. São Paulo, Ática, 1997.
ONG, W. “Writing is a Technology that Restructures Thought”. In: BAUMAN, G. (org.). The Written Word: Literacy in Transition. Oxford: Oxford University Press, 1986.
ROMAINE, S. Bilingualism. N.Y.: Basil Blackwell., 1989.
STREET, B.V. (org.) Cross-Cultural Approaches to Literacy. Cambridge: Cambridge: University Press, 1993.
__________(2006) “ Perspectivas Interculturais sobre o letramento”. Revista Filologia e Lingüística Portuguesa. Nº8. P. 465-488.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE E EXCLUSIVIDADE E CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS
Declaro que o presente artigo é original e não foi submetido à publicação em qualquer outro periódico nacional ou internacional, quer seja em parte ou na íntegra. Declaro, ainda, que após publicado pela REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E LINGUAGEM, ele jamais será submetido a outro periódico. Também tenho ciência que a submissão dos originais à (REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E LINGUAGEM implica transferência dos direitos autorais da publicação digital. A não observância desse compromisso submeterá o infrator a sanções e penas previstas na Lei de Proteção de Direitos Autorais (nº 9610, de 19/02/98).