Renegadas mas persistentes
as disciplinas escolares no currículo do Ensino Médio
DOI:
https://doi.org/10.61389/inter.v16i47.9917Keywords:
Currículo, Disciplinas escolares, Ensino médioAbstract
O texto apresenta uma discussão sobre as dinâmicas pelas quais as disciplinas têm sido rearranjadas e reconfiguradas nos currículos escolares, em tempos de Base Nacional Comum Curricular, de reforma e de reforma da reforma do Ensino Médio. A discussão está ancorada em análise documental e em registros de entrevistas com professores que ministraram componentes dos itinerários formativos, nos anos de 2022 a 2024, em duas escolas estaduais de ensino médio do Rio Grande do Sul. As recomendações para a interdisciplinaridade e para a superação do ensino organizado em disciplinas, reiteradas em Diretrizes Curriculares Nacionais e nos discursos hegemônicos sobre os arranjos curriculares, são contrastadas com os relatos que descrevem a persistência da lógica disciplinar nos currículos praticados nas escolas, embora com valorização desigual das disciplinas. Essa persistência pode ser explicada por uma combinação de fatores, que incluem a disciplinaridade como um componente constitutivo da própria instituição e da cultura escolar, o peso dos exames de acesso ao ensino superior e das avaliações em larga escala nas escolhas da mantenedora e dos estudantes, e a participação das disciplinas na formação e na constituição das identidades e dos saberes docentes.
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