Os lacres rompidos e a terra que treme: as desmarginações de Elena Ferrante entre o corpo que colapsa e o devastador de fora

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Autores

Palavras-chave:

Elena Ferrante, Teoria Literária, Literatura Italiana, Tempo, Angústia

Resumo

Este ensaio propõe pensar o termo smarginatura levando em consideração o neologismo criado pela tradução brasileira da tetralogia A amiga genial (2011- 2014), de Elena Ferrante. A partir da criação desse substantivo – que faz da dispersão a concomitância da ação contrária com o ato de marginar –, tenta-se colocar a palavra como uma representação de angústia profundamente articulada à construção temporal do romance, que atravessa a segunda metade do século XX. Para tanto, o esforço é o de passar por dois episódios de desmarginação e analisá-los sob o viés dos efeitos da nomeação e de sua temporalidade particular. Uma vez que a primeira ocorrência aparece no capítulo dedicado à adolescência, que tem como pano de fundo a recuperação econômica do pós-guerra, e a última delas dá-se quando as duas protagonistas estão grávidas - e ambientada na turbulência dos anos 70 da Itália -, a leitura proposta é de que as instabilidades de contornos são construídas para expressar também uma experiência de tempo. Com o que é estabelecido por Paul Ricoeur (1984), acerca do hiato que resta entre o tempo oficial e o do sujeito, as desmarginações serão tratadas como a ligação precária entre essas instâncias de tempo.

Biografia do Autor

Iara Machado Pinheiro, Universidade de São Paulo

Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestre em Letras (Teoria Literária) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é doutoranda em Letras (Estudos Literários e Culturais) no Programa de Pós-graduação em Letras Estrangeiras e Tradução da Universidade de São Paulo.

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Publicado

2021-01-21

Como Citar

PINHEIRO, Iara Machado. Os lacres rompidos e a terra que treme: as desmarginações de Elena Ferrante entre o corpo que colapsa e o devastador de fora. REVELL - REVISTA DE ESTUDOS LITERÁRIOS DA UEMS, [S. l.], v. 2, n. 25, p. 594–619, 2021. Disponível em: https://periodicosonline.uems.br/index.php/REV/article/view/4474. Acesso em: 29 mar. 2024.