UNIVERSIDADE BRASILEIRA E EPISTEMOLOGIAS DESCOLONIZADAS: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO COM UMA COMUNIDADE NO ESTADO DE GOIÁS, BRASIL

Visualizações: 609

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26514/inter.v11i33.4248

Palavras-chave:

Descolonização, Epistemologia, Quilombo

Resumo

A Chapada dos Veadeiros, no estado de Goiás, um local de difícil acesso com serras, morros e encostas íngremes, foi abrigo para escravos que fugiam. Esses escravos e seus descendentes foram se estabelecendo pelas serras em volta dos rios, das encostas e dos vales, que chamavam de “vãos”. Assim foi se formando a comunidade Kalunga. Este artigo relata a experiência de um Encontro de Saberes entre 33 estudantes universitários de Pedagogia e a comunidade quilombola Kalunga do Vão do Moleque, em Goiás, em 2018. Com base em relatos e registros desse evento acadêmico, que combinou ensino, pesquisa e extensão, verificou-se um proveitoso diálogo entre os conhecimentos acadêmicos e os saberes quilombolas, abordando-se as dimensões étnico-racial, política, historiográfica, pedagógica e epistemológica. Saberes quilombolas, com suas ciências e cosmologias, são fundamentais para o ensino com diversidade epistemológica. O Encontro de Saberes pode promover a descolonização do modelo de conhecimento segmentado, fragmentado e eurocêntrico ainda predominante nas universidades brasileiras.

Biografia do Autor

Sônia Bessa, Universidade Estadual de Goiás

Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Unicamp. Professora  da Universidade Estadual de Goiás (UEG) – Campus Formosa.   Membro do LIMA - Laboratório de Inovação em Metodologias Ativas LIMA/UEG/CNPq.   e-mail: soniabessa@gmail.com.

Cristiano Guedes, Universidade de Brasília - UnB

Doutor em Ciências da Saúde e professor associado na Universidade de Brasília.

Referências

ALMEIDA, M. G. Comunidades tradicionais quilombolas do nordeste de Goiás: quintais como expressões territoriais. Revista Franco-Brasileira de Geografia, n. 29, p. 1-17, 2016. Disponível em: HTTPS://journals.openedition.org/confins/11392. Acesso em: 7 jan. 2019.

ALMEIDA, M. V. Um mar da cor da terra: raça, cultura e política da identidade. Oeiras: Celta, 2000.

AMIN, Samir. El eurocentrismo: crítica de una ideología. México-DF: Siglo Ventiuno, 1989.

______. Eurocentrismo: crítica de uma ideologia. Lisboa: Dinossauro, 1994.

______. L’eurocentrisme: critique d’une idéologie. Paris: AnthroposEconomica, 1988.

BARBOSA, M. S. Eurocentrismo, história e história da África. Sankofa: Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana, v. 1, n. 1, p. 47-63, jun. 2008.

CARVALHO, J. J. Los estudios culturales en América Latina: interculturalidad, acciones afirmativas y encuentro de saberes. Tabula Rasa, n. 12, p. 229-251, 2010.

CARVALHO, J. J.; ÁGUAS, C. Encontro de Saberes: um desafio teórico, político e epistemológico. In: SANTOS, B. de S.; CUNHA, T. (Orgs). Coloquio Internacional de Epistemologias do Sul. Coimbra: Universidade Coimbra/Centro de Estudos Sociais, 2015. v. 1: Democratizar a democracia, p. 1017-1027.

CARVALHO, J.; FLÓREZ, J. F. Encuentro de Saberes: proyecto para decolonizar el conocimiento universitario eurocéntrico. Nómadas, n. 41, p. 131-147, 2014.

CARVALHO, J.; VIANNA; L.; SALGADO, F. Mapeando mestres e mestras dos saberes populares tradicionais. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2017.

CUNHA, M. I. Inovações na educação superior: impactos na prática pedagógica e nos saberes da docência. Em Aberto, v. 29, n. 97, p. 87-101, set./dez. 2016.

DUSSEL, E. 1492: o encobrimento do outro. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

GERHARD, A. C.; ROCHA FILHO, J. B. A fragmentação dos saberes na educação científica escolar na percepção de professores de uma escola de ensino médio. Investigações em Ensino de Ciências, v. 17, n. 1, p. 125-145, 2012.

GUIMARÃES, C. et al. Por uma universidade pluriepistêmica: a inclusão de disciplinas ministradas por mestres dos saberes tradicionais e populares na UFMG. Tessituras, v. 4, n. 2, p. 179-201, jul/dez. 2016.

INSTITUTO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE INCLUSÃO NO ENSINO SUPERIOR (INCTI). Encontro de Saberes: bases para um diálogo interepistêmico. Brasília: INCTI/UnB/CNPq, 2015. Disponível em: http://www.ufvjm.edu.br/formularios/doc_view/7248-.html?lang=pt_BR.utf8%2C+pt_BR.UT. Acesso em: 25 fev. 2019.

JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 2013.

MATA, I. Estudos pós-coloniais: desconstruindo genealogias eurocêntricas. Civitas, v. 14, n. 1, p. 27-42, jan.-abr. 2014.

MARINHO, T. A. A economia criativa e o campo étnico-kilombola – o caso Kalunga. Revista Ciências Sociais Unisinos, v. 49, n. 3, p. 237-252, set./dez. 2013.

MIGNOLO, W. Herencias coloniales y teorías postcoloniales. In: GONZÁLES STEPHAN, B. Cultura y tercer mundo: 1. Venezuela: Nueva Sociedad, 1996. p. 99-136.

MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 5. ed. Porto Alegre: Sulina, 2005.

MOURA, G. Uma história do povo Kalunga. Brasília: MEC, 2018.

NETO, F. A. N. Descolonizar a educação: os mestres dos saberes populares e tradicionais no contexto da formação cultural. Interfaces Científicas, v. 4, n. 3, p. 31-42, jun. 2016. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/educacao/article/view/1946/1817. Acesso em: 27 fev. 2019.

NICOLESCU, B. O manifesto da trasndisciplinaridade. 3. ed. São Paulo: Triom, 2018.

NICOLESCU, B.; MORIN, E.; FREITAS, L. Carta da transdisciplinaridade. In: Nicolescu B. O manifesto da trasndisciplinaridade. São Paulo: Triom, 2001. p. 1-17.

PAUL, P.; PINEAU, G. Transdisciplinarité et formation. Paris: L’Harmattan, 2005.

QUIJANO, A. Colonialidad del poder, eurocentrismo y America Latina. In: LANDER, E. (Coord.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Buenos Aires: CLACSO, 2000. p. 201-246.

SAID, E. Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

SANTOMÉ, J. T. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

SANTOS, B. S. O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do sul. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

SANTOS, A.; SOMMERMAN, A. Ensino disciplinar e transdisciplinar. São Paulo: Wak, 2014.

SENA, R. B.; JESUS, A.; SILVA, E. M. Romaria do Vão do Moleque como tradição identitária na comunidade kalunga em Cavalcante-GO. Revista Nós ¦ Cultura, Estética e Linguagens, v. 3, n. 2, p. 87-102, ago. 2018. Disponível em: www.revista.ueg.br/index.php/revistanos/article/view/8140/5681. Acesso em: 28 jan. 2019.

SEVERINO, A. J. O ensino superior brasileiro: novas configurações e velhos desafios. Educar, n. 31, p. 73-89, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/er/n31/n31a06. Acesso em: 3 jan. 2019.

SHOHAT, E.; STAM, R. Unthinking eurocentrism: multiculturalism and the media. London: Routledge, 1997.

SILVA, M. Saindo da invisibilidade – a política nacional de povos e comunidades tradicionais. Inclusão Social, v. 2, n. 2, p. 7-9, abr./set. 2007. Disponível em: http://revista.ibict.br/inclusao/article/viewFile/1596/1802. Acesso em: 27 jan. 2019.

SOMERMANN, A. Pedagogia da alternância e transdisciplinaridade. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL: PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA, I. Anais… Salvador, 1999.

SNOW, C. P. As duas culturas e uma segunda leitura. São Paulo: Edusp, 2015

YOUNG, R. White mythologies: writing history and the West. London; New York: Routledge, 1990.

Downloads

Publicado

24-12-2020

Como Citar

Bessa, S., & Guedes, C. (2020). UNIVERSIDADE BRASILEIRA E EPISTEMOLOGIAS DESCOLONIZADAS: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO COM UMA COMUNIDADE NO ESTADO DE GOIÁS, BRASIL. INTERFACES DA EDUCAÇÃO, 11(33), 202–222. https://doi.org/10.26514/inter.v11i33.4248